quarta-feira, 7 de março de 2012

Departure

É engraçado como eu tenho a capacidade de controlar meu nível de apego com as pessoas na minha própria terra e ao chegar em solo estrangeiro me tornar tão vulnerável aos sentimentos que tanto segurei ou deixei de lado. Talvez para manter a pose de forte, afinal sempre tem alguém precisando de ajuda e estou lá, forte e pronto para ser útil.


Mas antes mesmo de chegar a Los Angeles eu já tinha me prometido que meu coração estaria aberto, tanto para achar a metade da laranja (abraço, Fábio Jr.) quanto para sentir e vivenciar as experiências ao máximo. A primeira não deu certo, acho que tô melhor no jogo mesmo rs. Mas as experiências... Ah, as experiências.

Quem acompanhou o blog viu que desde o embarque até o último post (tem tempo, eu sei =\ ) eu estava sempre me surpreendendo. Todo santo dia (é essa a melhor tradução para every single day?) eu via algo novo, comprava algo de diferente, usava uma coisa complicada e achava o máximo. Nada daquilo eu jamais havia visto na minha terra. E sabe Deus se verei algum dia... E é dessa sensação, desse sentimento de OMG, que eu aqui no avião sobrevoando a Florida já estou sentindo falta.

E o quanto a ausência da minha vida de dois meses na Califórnia vai me fazer falta? Cada lágrima derramada durante os últimos dois dias pode dizer. Eu ainda tô surpreso comigo mesmo o quanto eu me apeguei a tudo lá. E não posso nem culpar a ausência de contato com familiares e amigos do Brasil porque internet tá aí para todo o mundo. Não foi para substituir ninguém que eu passei a gostar de pessoas que sequer sei o sobrenome e passei menos de dois meses para me fazer tão triste por deixar para trás.

Tenho absoluta certeza que me vai fazer falta cada pessoa com quem me relacionei, cada lugar que visitei, cada voz robótica do ônibus anunciando a próxima parada e informando que a mesma foi solicitada. Lendo este parágrafo eu, há 3 meses atrás acharia ridícula e exagerada a necessidade que estas coisas me farão. Mas (graças a Deus) eu não sou mais o mesmo e tô sentindo na pele, no peito, que todo o meu exagero é na verdade pequeno para exemplificar a dor da partida.

O quanto eu cresci e mudei? Bah, vou parar de tentar quantificar o abstrato. Como disse, eu mudei. Parei de ser o exato, larguei a frieza e o afastamento das coisas e percebi o quanto eu posso aproveitar delas se eu realmente me importar e buscar tirar proveito de tudo à minha volta.

Se aquele Rafael que todo mundo conhecia nunca mais será visto? Longe disso, é claro que vai. Mudei sim, mas não deixei de ser quem sempre fui. A essência, o caráter, estão aqui e, mais do que nunca, nada guardadinhos. Talvez a palavra "mudar" não seja a melhor. O que aconteceu comigo foi um desenvolvimento e pretensiosamente vou chamar de evolução.

Agora chega de ser tão pessoal e falar de mim por dentro. Aliás chega de falar de mim diretamente e vamos voltar ao tópico saudades, a qual de casa eu não sinto. E não venha me recriminar, eu vivi 23 anos na mesma cidade e você quer que eu fique triste por estar longe dela por 2 meses? Pó parar. Não vou nem dizer que sinto saudades das pessoas, mas é claro que seria muito melhor se em todas as experiências que tive durante esse bimestre de 2012 meus amigos e familiares estivessem presentes. Mas sabe o que eu vou sentir falta? Das palavras recorrentes. E aqui vai uma lista delas, ordenadas cronologicamente e escritas no idioma pelo qual me comunicava com quem as pronunciava:


> "oh my goodness!" e "over here/there"
I should be punished for having freaked out when I knew Sashi was an old lady and lived alone when I received the documents from Kaplan. She was so kind to me, I felt like I had my grandma back to me sometimes. I was really being taken care of and the fact that I had to pay to stay there didn't minimize the feeling of care at all.


> "how are you?"
Randolph (or Chineca) was the first friend I met there. Sharing the room (which was kind of surprising to me) was a great experience and I learned a lot of his country's culture. I spent like 20 days with him in the house but it was like years. A good hearted guy which I will always remember ^^


> "this is so crazy"
Dima, the Russian, was a sixteen-year-old responsible boy that impressed me with his easiness for facing things as they were ordinary ones. And for anything else that was different for him, it was so crazy lol


> "..."
Khalit... I will not miss him. Next.


> "é top!" e "esse trem aí"
O primeiro amigo brasileiro. Esse mineiro com pinta de modelo (não me olha com essa cara, foi a moça no shopping que falou isso xD) foi uma grande companhia. Tão inerte quanto eu, os dois decidindo alguma coisa era pra rir. "O que a gente vai fazer hoje? Por mim qualquer coisa tá bom. - É, para mim também........." uahsaushaushausa Um dia ainda te visito em Capinópolis, Zé o/


> "sério?" e "HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA..."
Jacque, uma carioca de Brasília que não parava quieta e era o combustível pros dois patetas que éramos Eddie e eu. Já sinto saudades de ter vergonha alheia pelas risadas mega sonoras dentro do ônibus, metrô, lojas e seja onde for. Com certeza uma pessoa inesquecível.


> "Rafito!" e "is this sentence correct?"
This one was without any doubt my best friend of this trip. Of course all the others were really important, but this was the guy. Not was, is! Since the first week talking to each other, the last day was really hard for me to handle. I just couldn't say goodbye because I knew the sentences wouldn't come out entirely. We were so close that sometimes we avoided one another not to look homo xD The Turkish things I learned will remain in my memory forever, especially swearing orospu çocugu at bad drivers hahaha Miss you already, Nurinho.


> "I don't wanna turn left *crying*"
Hahaha this is recent but remarkable! Beste was the best! (sorry for the bad joke :p). And something I find in common with her is the love for Los Angeles. Despite this, her knowledge of English and movie culture is incredible. Such a wise friend I've made. Strong girl whose the only weakness was the fear of turning left when driving. I know, baby, the traffic in L.A. is confusing. It was also a big deal for me to say goodbye, even having so many things to wish.


> "what's my job?" e "why do I care?"
Dan became the reference to me in terms of teaching. Every day I got more and more amazed with the range of knowledge that man has. He knows E-V-E-R-Y-T-H-I-N-G about anything. And his examples, always relating to the ones who asked, reminded me of myself trying to do the same. My TOEFL score was a crap, but I can't blame him even a bit. He made his job efficiently enough so anyone could at least know in details what was in store for us in that test.


> "what size?" e "what's your name?"
Starbucks attendants are like robots. After sometime you know what to say so they don't need to say anything else after the "next guest in line, please". And changing names every day was also a fun thing. Rafael, Jason, Joshua, Peter, Bob, Joey, Ross... all these names that decorated my coffees or hot chocolate cups wouldn't be the same if not written by those clerks.


> "Lafér" e "I'm hungry again, why?"
If I could call someone a brother in this trip, this one would be Benjamin. Chinico spent also less than a month sharing the room with me, but I felt like it had been for years. We developed a strong relationship during this time. Just like Randolph, I was of great help for him when English was an issue, be it correcting his pronunciation or grammar. Something that smashed my heart before departing was when he said "and now who's going to teach me English?". Just being reminded of this moment makes my eyes wet. It set clear that I was leaving and there was no one else in that house to get rid of his doubts, neither anyone skilled enough to replace me (it sounded a little cocky, I know). Proof that our link was so strong is that in the last night, when I had to sleep in the living room due to my dumbness in scheduling flights, he did the same and slept on the sofa next to me, even having a comfortable bed waiting for him in his bedroom. I'm pretty sure when I wake up tomorrow I will miss that person calling my name in Chinese non-stop, likewise will miss jumping on him to wake him up and saying he is lazy.

É claro que tiveram outras pessoas muito importantes nessa viagem, como o casal Kaio e Anna (ou Koio e Ãnna como Nuri os chamava xD), Burhan, Gizem, Nicolas... mas a lista foi mais pelas palavras que eu estava acostumado a ouvir e agora eu simplesmente tenho que aceitar não ter mais. Enfim, tenho que aceitar e buscar outras palavras com a mesma relevância.

E depois de 13 horas de vôo cá estou eu, olhando pela janela (consegui assento na janela!!!) revendo meu país de origem pensando como os portugueses há 500 anos pensaram: venho aqui explorar, catar meu ouro e seguir para onde sinto ser meu lugar.

Elba, esta é a deixa...

"Estou de volta pro meu aconchego. Trazendo na mala bastante saudade."

Amigos, família, conto com vocês para fazer dessa nova etapa da minha vida tão preciosa e significativa quanto foram esses dois meses de intercâmbio. Sei que todas as saudades expressas via Facebook, Twitter, msn e telefone não foram da boca para fora e está sendo isso em que eu estou me segurando para levantar da cama e poder contar quão bom foi o sonho que eu tive na noite passada.

E para terminar, deixo uma mensagem mais clichê que "né brinquedo não, hein", que é o conselho: acredite nos seus sonhos. Um dia estava eu em Teresópolis tirando foto fingindo estar em outro país; noutro estava eu cansado de ver a mesma placa todos os dias. E entre um dia e outro o que aconteceu? Um sonho bem planejado.

2 comentários:

  1. Respostas
    1. Andei pensando em voltar com o blog, mas teria que mudar a temática, né? Ainda vou pensar sobre isso. Mas foi bom saber que ele agradava a ponto de deixar saudades ^^
      Beijo, Mareep!

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